quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O que é, afinal, essa tal “saúde”? (1)


Representação de um oftalmologista egípcio
Capítulo 1: A Medicina Egípcia

Definir o que é “Saúde” é tarefa difícil. Há inúmeros aspectos a ser considerados e as definições costumam variar de tempo em tempo, de lugar para lugar. A proposta deste texto, dividido em capítulos, é introduzir elementos para auxiliar a quem se interessa pelas concepções do que seja a “Saúde” no percurso da história.

Seguindo uma ordem cronológica, começamos pelo Antigo Egito.

Uma civilização avançada para sua época
Localizado no Norte da África, no vale do Rio Nilo, o Antigo Egito compunha um complexo de civilizações localizadas ao longo daquele vale. Data de aproximadamente 3150 a. C. o seu surgimento, tendo se desenvolvido nos três milênios seguintes. Sua história é, assim, longa e complexa, sendo impossível abordá-la de forma completa em poucas linhas.
A Medicina egípcia trabalhava com a noção de um corpo humano nascido saudável, mas que adoecia e morria por interveniência de agentes externos 
Seus soberanos eram chamados “faraós” e os antigos egípcios acreditavam que os faraós eram deuses ou semideuses. Alguns deles ficaram muito conhecidos, como Ramsés e seus filhos (houve onze faraós com esse nome, sendo o primeiro o pai dos outros dez). Aquenáton é outro faraó bastante lembrado por pelo menos quatro fatores, incluindo a beleza de sua esposa, Nefertiti e por sua tentativa de mudar o sistema religioso egípcio, desbancando o politeísmo. Mas também é lembrado por seu incentivo às artes e por ter sido pai de Tutancâmon, o faraó jovem cuja tumba supostamente levou à morte quase todos os que se envolveram em sua descoberta (ou violação, conforme o ponto de vista), já no século XX.

Avanços técnicos, tecnológicos e vastos conhecimentos matemáticos
Deixando as maldições de lado, é interessante saber que a antiga civilização egípcia se adaptou muito bem às condições do Vale do Nilo, lidando com habilidade com as inundações, que em parte já eram previsíveis, e criando formas de irrigação que aproveitavam a água do Nilo. As boas colheitas foram fundamentais para patrocinar avanços civilizatórios e os egípcios puderam se dedicar a avanços técnicos e tecnológicos, notadamente na extração mineral, topografia, arquitetura e engenharia. Além, é claro, de realizações significativas no campo da Medicina, assunto focal deste texto, e também na Matemática. Dizem que o sábio Pitágoras, que levou para a civilização grega a riqueza do conhecimento matemático, ali aprendeu o que sabia.


O Papiro de Ebers (1552 a. C.) contém mais de 700 fórmulas 
para tratar desde unha encravada até mordidas de crocodilos, 
além de receitas para livrar as residências de moscas, ratos 
e escorpiões e descrições de males como diabetes, tracoma 
e artrite. Traz, ainda, uma descrição surpreendentemente 
precisa do sistema circulatório, incluindo existência de 
vasos sanguíneos em todo o corpo e o coração como o centro 
da circulação do sangue. Até mesmo a psiquiatria tem espaço, 
com uma descrição do que hoje conhecemos como "depressão".
Egípcios conheciam bem a fisiologia
Os egípcios foram os primeiros a entender que as doenças têm causas naturais, ou seja, são motivadas por agentes presentes na natureza, no ambiente que nos cerca. Isso os levou a produzir remédios para sanar os efeitos dos agentes patogênicos e a indicar ações básicas de prevenção.

Segundo o pesquisador Sameh M. Arab, médico que desenvolveu estudos sobre a história da Medicina no Antigo Egito, a Medicina egípcia trabalhava com a noção de um corpo humano nascido saudável, mas que adoecia e morria por interveniência de agentes externos a ele. No caso de ferimentos ou vermes intestinais, por exemplo, o agente externo maléfico é visível; no entanto, as chamadas doenças internas eram atribuídas a forças resultantes de castigos divinos infringidos aos mortais ou a feitiçarias. Segundo se acreditava, era preciso primeiro neutralizar a força do mal para depois operacionalizar um tratamento.

Os egípcios conheciam a anatomia e a fisiologia e obtinham inegáveis sucessos no embalsamamento, conforme podemos constatar pelo perfeito estado das múmias existentes até nossos dias. Desenvolveram, por exemplo, a técnica de esvaziamento do cérebro através das narinas, utilizando um gancho longo.

O mais antigo tratado médico
O Papiro de Ebers data de aproximadamente 1552 a. C. e está em exibição na biblioteca da Universidade de Leipzig. Acredita-se que possa ser uma cópia do mitológico livro de Thoth (3000 a.C.), considerado por muitos o primeiro médico, farmacêutico e alquimista da história. Seu nome vem do monge alemão Georg Moritz Ebers (1837/1898), egiptólogo e romancista alemão, que o disponibilizou ao público na década de 1870.

O tratado contém mais de 700 fórmulas de remédios para tratar desde unha encravada até mordidas de crocodilos, além de soluções para livrar as residências de moscas, ratos e escorpiões e descrições de males como diabetes, tracoma e artrite.

Nas aproximadas 110 páginas do papiro, há ainda capítulos sobre doenças intestinais, oftalmologia, dermatologia, ginecologia e obstetrícia, incluindo temas relacionados à contracepção. O tratado também trata de intervenções cirúrgicas sobre tumores e abscessos, além do tratamento de queimaduras e fraturas e traz uma descrição surpreendentemente precisa do sistema circulatório humano, incluindo a existência de vasos sanguíneos em todo o corpo e o coração como o centro da circulação do sangue.

Até mesmo a psiquiatria tem uma seção especial, com uma descrição daquilo que hoje definimos como depressão.

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No capítulo 2, vamos saber como era a saúde para gregos e romanos, na antiguidade. 

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